(imagem retirada do Google)
Ao reponte do sol que descamba
O dia se aprochega pro arremate
Pelos campos e nos matos da querência
O revoar da bicharada voltando ao ninho
É hora de recolhimento
No rancho que há no interior de mim mesmo
Eu, gaúcho de fé, me arrincono e medito
Despindo o poncho da vaidade e do orgulho
tiro o chapéu, apago o pito
e me achego pra uma prosa com o Patrão maior
Na sua presença, meu sangue quente de farrapo
se faz manso caudal
Entrego-lhe minha alma afoita de alcançar lonjuras e abrir cancha em busca do destino
Renúncio a minha xucra rebeldia
e me faço doce de boca e macio de tranco pra dizer-lhe
Gracias Patrão por tudo que me deste
Por esta querência Senhor que meus ancestrais regaram com seu sangue e que aprendi a amar desde piá
Pelos meus parceiros nessa ronda da vida
sempre de prontidão pra me amadrinharem na campereada mais custosa
ou para matearem comigo na hora do sossego
Reparte com eles Patrão
esta fé que me deste
e este orgulho pela minha querência
Ajuda Patrão
a manter acesa esta chama
Concede sempre ao gaúcho
a força no braço
e o tino pra saber o que é correto
Dá-nos consciência
para preservar a nossa cultura
livre da invasão dos modismos
Conserva a essência e a beleza da nossa tradição
E agora, com licença Patrão
que vou aproveitar a olada
para um dedo de prosa com Nossa Senhora
Ave Maria
Primeira Prenda do céu
Contigo está o Senhor
da Estância Maior,
Tu és Bendita entre todas as prendas
e Bendito é o piá que trouxestes ao mundo, Jesus
Maria, mãe de Deus
e mãe de todos nós
roga pela querência e
pelos gaudérios que aqui moram
nesta hora
e no instante da última cavalgada.
Amém.
(AVE MARIA DO PEÃO - Odilon Ramos)
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