Rio Uruguai
Entre Argentina e Brasil
Num disparão sutil
Lembra o velho Boi Tatá
Onde os do lado de lá
Conservam mágoas oriundas
por que as águas mais profundas
pendem pro lado de cá.
Existem lagos nos contos
amores com adultério
mas não concentram mistério
no seu romance de artista
este sangão nativista
o único idioma que fala
é o turumbamba de bala
do velho contrabandista.
Faz estropícios no mapa
com sua menção frequente
e só não tem descendente
é crioulo do luar
Tem um corpo sabe amar
tem sofrimento e consolo
e o Piratini Crioulo
É seu vaso capilar.
Uruguai das ilhas grandes
farol mudo do balseiro
antigo chão brasileiro
que dantes dera bochinchos
mui quebrador de corinchos
não é como as praias belas
em vez de lindas donzelas
tem rebanho de capinchos.
Águas claras quando calmas
barrentas quando agitadas
solução nas enxurradas
dores das almas pagãs
volta a vida nas manhãs
as cachoeiras vão cantando
e os Dourados patrulhando
cardumes de grumatãs.
Uruguai das barras tristes
que o nambu vive cantando
e o barco do contrabando
corta o rui calmo e parelho
não foi falta de conselho
e um tiro acorda o espaço
e o gaúcho de um balaço
pinta as águas de vermelho.
A noite cruza e clareia
e o Taura não aparece
e novamente anoitece
e a costa toma um pavor
o Bugiu compreende a dor
decerto ao homem venera
um rancho ficou tapera
e um china sem amor
A morte deixa recuerdos
principalmente ao gaúcho
que desenha no cartucho,
uma revanche, um desengano
quando encontra o castelhano
no mesmo rio, meio afoito
num berro de trinta e oito
La guarda perde um paisano.
Mais abaixo vem a ponte
que é o ajouje da amizade
liga cidade a cidade
a ponte continentina
soltam a mesma resina
e o Uruguai beija os nubentes
ou casal de continentes
Pai BRASIL, Mãe ARGENTINA.
(Gomercindo Medeiros Filho - Cidinho Medeiros)
Estância da Poesia Crioula - 1964
Colaboração: Pio Medeiros
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