Ah, um amor impossível sempre deixa marcas. E as vezes estas marcas são tão profundas que custam a cicatrizar. Nesse mesmo contexto, conto-lhes a seguinte história:
Numa noite de sono tranquilo, sonhei com uma forma de amor impossível. Era um local desabitado, no linguajar gaúcho, uma tapera. Nele, haviam apenas duas flores em meio à macegas que cobriam o local e um açude. Uma delas era um lírio do campo, que tristonho pela sua solidão, custou a perceber que, na noite, nas águas daquele açude, abria-se para a lua uma outra flor, de nome Vitória Régia, a flor branca. Assim que se deu conta da presença dela, o lírio esperava ansioso pela chegada da noite, onde ficava a admirar aquele ser tão belo. Mas aquele amor era impossível, pois que um vivia na terra e o outro na água. Os dias se passaram e uma enxurrada inundou o açude, que veio por exceder-se. Em meio a água que tomava conta de todo o local, o lírio via a flor de seus sonhos aproximar-se dele, na medida em que ele afundava-se na água, sendo que sua última visão foi a da Vitória-régia bem próxima dele. Aquela enchente durou alguns dias e ao baixar o nível das águas, o Lírio já não estava mais entre as plantas vivas da tapera. Por semanas a tristeza fez morada no açude, onde até o vento assoviava muito dor, quando então a natureza mostrou-se mãe e fez nascer ali, no mesmo lugar onde o Lírio vivia, um broto em flor, sem espécie definida, pois que não se sabia o que viria dessa união tão desigual.
Apresento-lhes a minha primeira composição, que levou melodia de Cristiano Cesarino, a música DE VIDA E FLOR:
Numa tapera junto às águas de um açude
Vivia um Lírio solitário tão tristonho
Só não sabia que no meio dessas águas
Adormecia uma Vitória-Régia em lindo sonho
Percebeu o triste Lírio que na noite
Nas águas mansas se acordava com a Lua
E no silêncio de um olhar assim nasceu
O amor que entre dois seres floresceu
Enquanto o sol despertava a natureza
A flor branca dormia sob o azul do céu
E o Lírio que ali a admirava
Espera o seu encontro sob o véu
Mas o destino assim se fez profecia
O sol e a lua não surgiram no horizonte
As águas mansas se fizeram rebeldia
Levando o Lírio ao encontro de um instante
Momento único de amor e alegria
O Lírio foi-se afundando lentamente
Levando as lágrimas do dia que surgia
E o olhar daquela flor eternamente
E a tristeza tomou conta da tapera
E até o vento assoviava muita dor
Mas se fez sábia a natureza nessa espera
Trazendo um fruto consumado desse amor
E ali na beira daquele velho açude
Nasceu um broto sem dizer espécie em flor
Pois ninguém sabe o que vira desse encontro
Em que o destino se fez grande ditador
(Imagens retiradas do Google)
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